Ceratocone na córnea dos olhos

 

ÍNDICE

Ceratocone é uma doença rara, debilitante e progressiva do olho no qual a córnea (normalmente redonda) infla e estende-se para a frente até ter uma forma semelhante a um cone.
Esta forma de cone desvia a luz que entra no olho, causando uma visão distorcida.
O ceratocone pode ocorrer em um olho ou ambos e geralmente começa na adolescência ou entre os 20 anos.

 

 

Classificação do ceratocone com base no tamanho

1. Nipple se a superfície cobre até 5 mm da córnea (leve)
2. Oval se cobre de 5 a 6 mm da córnea
3. Globoso se cobre mais de 75% da superfície da córnea (grave)

Tipos de ceratocone com base na distância entre o ápice e o centro da córnea
Esta classificação é fundamental para decidir o tratamento e compreender o prognóstico.

Grau I – Central
Grau II – Paraentrale
Grau III – Peripheral
Grau IV – Distrofia marginal pelúcida

O ceratocone frusto é caracterizado pela presença de astigmatismo assimétrico.
O ceratocone frusto geralmente permanece estável ao longo da vida do paciente, raramente piora e, neste caso, ocorre muito lentamente.

 

 

 O ceratocone pode danificar a vista?

As alterações da córnea podem tornar impossível a focalização das imagens de perto e de longe.
Além da visão distorcida, vemos mal também as cores.

A cirurgia a laser para a correção da vista – LASIK ou PRK – pode ser perigosa para as pessoas com ceratocone.

 

Causas de ceratocone e fatores de risco

A causa do ceratocone é desconhecida.
O ceratocone pode estar ligado a:

  • Esfregamento vigoroso dos olhos;
  • Hereditariedade;
  • Algumas doenças oculares como retinose pigmentar, a retinopatia da prematuridade ou ceratoconjuntivite Vernal (CCV);
  • Uma combinação de várias doenças, como as anomalias das enzimas ou dos fatores hereditários, incluindo a síndrome de Down;
  • Usar lentes de contato por vários anos.

 

O ceratocone é hereditário?

Os estudos genéticos mostram que geralmente o ceratocone não é hereditário, mas pesquisas sobre gêmeos concluem que a doença acomete mais frequentemente os dois gêmeos monozigóticos respeito aos dois heterozigotos.
Este fato leva à conclusão de que há um componente hereditário possível.

 

Sintomas de ceratocone

Nas fases iniciais, o ceratocone provoca:

  • Um leve desfoque das imagens,
  • Visão distorcida,
  • Maior sensibilidade à luz (fotofobia),
  • Dor de cabeça,
  • Dor nos olhos e fadiga,
  • Alguns pacientes também relatam ardência nos olhos.
  • Ofuscamento, sendo quase impossível dirigir à noite.

Quando ela para de avançar?
O ceratocone pode avançar até 40 anos, depois a situação se estabiliza.
Com a progressão do ceratocone, o inchaço da córnea aumenta e a visão se pode tornar cada vez mais distorcida.
Em um pequeno número de casos, a córnea incha de repente e causa uma perda súbita e significativa da visão.
O inchaço pode durar semanas ou meses, depois é gradualmente substituído por tecido fibroso.

 

Sinais de ceratocone

Existem algumas alterações oculares que podem ocorrer em caso de ceratocone:

1. Afinamento da córnea,
2. Deformação da superfície da córnea,
3. Anéis de Kayser-Fleischer (50% dos casos) – acumulação de pigmentos de ferro que são depositados na parte profunda do epitélio da córnea. Forma-se um anel verde-amarelado visível com os instrumentos do oftalmologista.
4. Cicatrizes (fibrose) – formam-se no ápice da córnea como consequência da ruptura da membrana de Bowman. Em estágios avançados, as cicatrizes são muito grandes e podem impedir a passagem da luz causando ofuscamento. As cicatrizes também podem reduzir a tolerabilidade da lente de contato.
5. Estrias de Vogt são linhas verticais pequenas (raramente) oblíquas que são formadas nas camadas mais profundas do estroma.
A pressão nas pálpebras provoca o desaparecimento das estrias de Vogt.
6. Nervos da córnea – tornam-se mais espessos no caso de ceratocone.
7. Sinal de Munson – deformação da pálpebra inferior que ocorre no caso de ceratocone avançado e é visto apenas quando o paciente olha para baixo.

 

Diagnóstico de ceratocone

No caso de haver suspeita de ceratocone, o diagnóstico precoce é fundamental para prevenir a ulterior perda da visão.

O oftalmologista pode realizar os seguintes exames:

  • Queratometria
    Um ceratômetro é usado para medir a curvatura da córnea e o eixo do astigmatismo. Em casos graves, o ceratômetro pode não ser suficiente para fazer um diagnóstico correto.
  • A retinoscopia é um exame onde se envia um feixe de luz para a retina e se avalia o reflexo. A deformação do reflexo vermelho do fundo (como uma gota de óleo) é usado para descobrir a localização do ceratocone.
  • O exame de lâmpada de fenda serve para avaliar outras características específicas do ceratocone, como anéis de Kayser-Fleischer (uma pigmentação marrom-amarelada-verde) na córnea.
  • A topografia corneana é um exame que serve para determinar a curvatura da superfície da córnea. Este exame funciona melhor quando o ceratocone está na fase inicial porque mostra eventuais distorções ou cicatrizes na córnea.
  • Paquimetria corneana – mostra a espessura da córnea em todos os pontos da superfície.
Paquimetria corneal,ceratocone

Paquimetria corneana
© Massimo Defilippo

 

Tratamentos para ceratocone

Ceratocone na córnea dos olhos

© fotolia.com

Na forma mais leve de ceratocone, os óculos ou lentes de contato gelatinosas podem ajudar. Mas quando a doença avança, a córnea se afina e assume uma forma irregular; óculos e lentes de contato não corrigem mais a vista corretamente.

Alguns autores afirmam que a lente pode retardar o avanço da doença, mas nem todos concordam.
Não existe uma lente de contato melhor do que outra, a escolha depende de quanto ela corrige a vista e do conforto.

Os tratamentos para ceratocone moderado e avançado incluem:

As lentes Kerasoft, compostas de silicone hidrogel, têm uma quantidade elevada de água e podem corrigir até 10 dioptrias de miopia ou hipermetropia e até 6 dioptrias de astigmatismo.                            Estas lentes macias e personalizadas podem ser usadas meio-período por pessoas com ceratocone que não toleram as lentes gás-permeáveis o tempo todo.

Lentes de contato rígidas gás-permeáveis. Se os óculos ou as lentes de contato macias não conseguem controlar o ceratocone, normalmente as lentes de contato mais procuradas são as rígidas gás-permeáveis. O material rígido permite que a lente gás-permeável tenha uma forma arredondada sobre a córnea, corrigindo a forma cônica do olho com uma superfície lisa que refrata uniformemente para melhorar a vista.

As lentes rígidas gás-permeáveis são menos confortáveis de usar respeito àquelas macias. 
Além disso, colocar lentes de contato sobre uma córnea com ceratocone é difícil e demorado.
É preciso voltar várias vezes ao oftalmologista para adaptar a receita e as lentes (normalmente mudam a cada dois anos), especialmente se o ceratocone continuar a avançar.

Lentes de contato mistas ou Piggyback. Visto que as lentes de contato gás-permeáveis podem ser desconfortáveis, alguns oftalmologistas recomendam as lentes Piggyback, ou seja, dois tipos diferentes de lentes de contato.
Este método prevê a colocação de uma lente de contato macia, como a gelatinosa de silicone hidrogel, diretamente no olho e uma lente gás-permeável sobre a lente macia gelatinosa. Este método aumenta o conforto ao usuário, porque a lente macia atua como almofada debaixo da outra.

Lentes híbridas. Estas lentes de contato têm um centro rígido (gás- permeável) e um anel mais macio por fora para aumentar o conforto. As pessoas que não toleram as lentes de contato rígidas podem preferir as lentes híbridas.

Lentes de contato esclerais. Essas lentes são úteis quando o formato da córnea é muito irregular ou o ceratocone está em fase avançada.
São maiores do que as outras lentes e cobrem todo o olho.

Ao invés de apoiar na córnea, como as lentes tradicionais, as lentes esclerais apoiam na parte branca do olho (esclera) e vão além da córnea, sem tocá-la.

Intacs ou anéis intraestromais (intracorneanos)
Estes anéis intracorneanos aplicados cirurgicamente foram aprovados pela FDA para o tratamento de ceratocone em agosto de 2004.
Os anéis de plástico são muito pequenos e são colocados logo abaixo da superfície do olho na periferia da córnea para ajudar a restaurar o formato da córnea e deixar a vista mais nítida.
Os Intacs podem ser necessários quando os pacientes com ceratocone não conseguem ver com lentes de contato ou óculos.
Vários estudos têm mostrado que os Intacs podem melhorar a acuidade visual de um olho ceratocônico de duas linhas em um gráfico padrão do olho.
Os implantes também têm a vantagem de ser removíveis e intercambiáveis.
O procedimento cirúrgico leva apenas 10 minutos.
Os intacs podem retardar, mas não evitam o transplante de córnea se o ceratocone continuar a avançar.

Operação cirúrgica

Quando operar? A cirurgia é necessária se:

  1. Existem cicatrizes na córnea,
  2. Existe um extremo afinamento da córnea,
  3. A vista não melhorar, mesmo com as lentes mais potentes,
  4. Não se consegue usar as lentes de contato.

Vários procedimentos cirúrgicos estão disponíveis, dependendo da localização do cone saliente e da gravidade da doença.

 


Cross Linking ou reticulação corneana

Este procedimento serve para reforçar o tecido corneano e impedir o inchaço da superfície do olho no ceratocone.

Existem duas versões de cross linking:

1. Com remoção do epitélio corneano
Com a remoção do epitélio, a parte externa da córnea é removida para permitir a entrada da riboflavina (um tipo de vitamina B) na córnea.
Nem todas as pessoas podem fazer esta operação, depende da espessura da córnea que deve ser maior do que 400 mícrons.

Esta substância é ativada com raios de luz UV que são enviados para a córnea.

A riboflavina promove a formação de ligações mais fortes entre as fibras de colágeno que previnem a deformação da córnea.
Dentro de 3/5 dias, o epitélio corneano se forma novamente.

2. Sem remoção do epitélio corneano
Este procedimento também é chamado de reticulação transepitelial.
A superfície da córnea permanece intacta.                                                                                                                Com este método, a riboflavina precisa de mais tempo para penetrar na córnea, mas há menos riscos de infecção, menos complicações e uma recuperação da visão mais rápida.
Vários estudos clínicos sobre cross linking estão em curso nos Estados Unidos.

Testemunho de um paciente que se submeteu ao Cross Linking

Os problemas de vista começaram quando eu tinha 14 anos; infelizmente quando aparece cedo, evolui mais rápido.
No início, me acostumei com as lentes e estava contente porque eu conseguia enxergar muito bem.
Depois de dois anos, já não conseguia usar as lentes porque o olho era sensível ou porque as lentes secavam e saíam.

Antes da operação de cross linking eu sentia ardência e dor.
Já operei duas vezes de cross linking.

Procedimento
O cross linking dura menos de meia hora e é feito com anestesia local.

O médico pinga um colírio anestésico.
O olho é mantido aberto com um instrumento especial.
A operação consiste em pingar gotas de colírio com riboflavina e na emissão de um feixe de laser a nível da córnea.
Eu fiz esta cirurgia duas vezes, na primeira o oftalmologista usou laser e não senti dor, na segunda usou corrente elétrica. Esta técnica é chamada iontoforese e serve para favorecer a penetração da riboflavina. Neste caso, senti dor.
A cirurgia a laser deu um discreto resultado; de fato, a córnea ficou estável durante cerca de cinco anos e senti uma leve melhora de visão.
Infelizmente, não se pode recuperar completamente a visão, mas dado que a doença tende a piorar, deste modo se procura evitar ou retardar os tratamentos mais invasivos, como o transplante.

Após a operação de cross linking
O cross linking com uso de iontoforese não deu bons resultados, a vista ficou como antes.
Nos primeiros 2 dias, o paciente prefere ficar no escuro, depois pode voltar à luz normal.
É preciso cerca de um mês para a estabilização dos resultados.
O cross linking não afeta a córnea.

 

Transplante de córnea para casos de ceratocone

No caso de cicatrização corneana ou excessivo afinamento, provavelmente será necessário um transplante de córnea (ceratoplastia).

  1. A ceratoplastia lamelar é um transplante de espessura parcial, onde é substituída apenas uma seção da superfície corneana.
  2. A ceratoplastia penetrante é o transplante de córnea mais comum, é um transplante de córnea completo.                                                                                                                                                             Neste tipo de operação, os médicos removem uma inteira porção de córnea e substituem-na com o tecido do doador.

A recuperação pós-ceratoplastia pode demorar até um ano e pode ser necessário usar lentes de contato rígidas para ter uma vista mais nítida.
Os resultados definitivos só podem ser vistos vários anos após o transplante.

 

Quais são as expectativas? Prognóstico

Na maioria dos casos, a vista pode ser corrigida com lentes de contato rígidas gás-permeáveis.
Hoje, com o cross linking transepitelial é possível obter excelentes resultados a longo prazo, com tempos de recuperação breves.

O transplante de córnea normalmente dá bons resultados.
O período de recuperação pode ser demorado e muitas vezes os pacientes ainda precisam de lentes de contato.

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